sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Velhas Lembraças


Numa casa velha, de alpendre torto e jardim cheio de gerânios, girassóis e helicônias, um casal de velhos remói, numa prosa bem mastigada, velhas lembranças. Enquanto a velha fala, o velho resmunga, mais lento que ela.
- Meu velho, lembra daqueles tempos que havia terreiro e rodas de criança na ciranda da vida?
- Eita! Hum, hum... Cirandeira...
- Lembra daqueles tempos que somente a luz da lua iluminava nossas noites?
- hum, se lembro...Luarzão...
- Lembra daqueles tempos que as conversas se prolongavam madrugada a dentro sobre bichos, visagens, heróis cangaceiros, profecias sertanejas?
- Virge do céu, demais!
- Lembra daqueles tempos que o fogo faiscava na frente de nossa casa e nós, em volta do fogo, cantávamos ingênuas cantigas, cheias de amor à existência?
- Ah! Como se fosse hoje...
- Lembra daqueles tempos em que nossos amados filhos nos pediam santa benção e nos seguiam felizes até a casa de oração?
- E dá pra esquecer?
- Lembra daqueles tempos em que o céu era mais azul, as estrelas brilhavam mais intensamente, os rios tinham águas mais límpidas e as matas eram mais verdes?
- Eh! Minha velha, o único presente que deixaremos aos nossos filhos, e aos filhos dos filhos dos nossos filhos, serão as lembranças.
- Será que eles hão de querer velhas lembranças, velho?

1 comentários:

blog do et disse...

muito bom.
o céu era mais azul, as estrelas brilhavam mais intensamente, os rios tinham águas mais límpidas e as matas eram mais verdes !
abraço

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